Quatro horas da tarde
Poema de Murilo Mendes
Não vejo ninguém vivo nesta cidade enorme:
Daqui a cinquenta anos estarão todos no cemitério.
Vejo somente a água, a pedra fixa
Que me transportam ao princípio do tempo.
Quem são estes fantasmas que se movem nas ruas
Agitando bandeiras, levantando os braços, tocando tambores?
Quem são estes velhos que andam de velocípede,
Quem são estes bebês empunhando machados?
Procuro a amiga tão bela e necessária.
Se não está comigo, em mim, é porque não existe.
Ó minha amiga, surge em corpo, senão acreditarei
Que também eu próprio não existo.
De quem é este manto de púrpura que arrastam no chão?
Não é para mim, talvez para um operário.
Cubramos com ele o sexo de Madalena
Que me espera num porão da Idade Média.
Um manequim assassina um homem por amor.
Sete pianos inflam na extensão do asfalto.
Um arcanjo sólido descerra o vale de Josafá
Apresentando-me à última mulher que haverá no mundo.
Fonte: "Poesia em Pânico", Editora Nova Aguilar, 1995.
Originalmente publicado em: "Poesia em Pânico", Cooperativa Cultural Guanabara, 1937.
Fonte: "Poesia em Pânico", Editora Nova Aguilar, 1995.
Originalmente publicado em: "Poesia em Pânico", Cooperativa Cultural Guanabara, 1937.