Desencanto
Poema de Júlia Cortines
A alma me disse: - “Quero, sacudida
De inspiração nas asas, me elevar
Do tenebroso pélago da vida
Às profundezas do celeste mar,
Onde resplende a vaga azul, batida
De sol, e a Via láctea, a flamejar,
Entorna sobre a vaga enegrecida
As contas luminosas do colar.”
Quando desceu: - “Os céus a que subiste
De oiro e de azul em realidade são?
(Interroguei-a) Fala: o que é que viste
Ao fundo dessa rútila amplidão?”
- “Da treva apenas vi, surpresa e triste,
O ilimitado e lúgubre golfão...”
Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Versos", Tipografia Leuzinger, 1894.