À Eugenia Camara

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Poema de Castro Alves



Ainda uma vez tu brilhas sobre o palco,
Ainda uma vez eu venho te saudar...
Também o povo vem rolando aplausos
A's tuas plantas mil troféus lançar...

Após a noite, que passou sombria,
A estrela d'alva pelo céu rasgou...
Errante estrela, se lutaste um dia,
Vê como o povo o teu sofrer pagou...

Lutar... que importa, se afinal venceste?
Chorar!... que importa, se afinal sorris?
A tempestade se não rompe a estatua
Lava-lhe os pés e a triunfal cerviz.

Ouves o aplauso deste povo imenso,
Lava, que irrompe do popular vulcão?
É o bronze rubro, que ao fundir dos bustos
Referve ardente do porvir na mão. 

O povo... o povo... é um juiz severo,
Maldiz as trevas, abençoa a luz...
Sentiu teu gênio e rebramiu soberbo:
- P'ra ti altares, não do poste a cruz.

Que queres ? Ouve! - são mil palmas fervidas,
Olha! - é o delírio, que prorrompe audaz.
Pisa! - são flores, que tu tens ás plantas
Toca na fronte - coroada estás.

Descansa, pois, como o condor nos Andes,
Pairando altivo sobre terra e mar
Pousa nas nuvens p'ra arrogante em breve
Distante... longe... mais além voar. 



Fonte: "Obras completas", Livraria Francisco Alves, 1921.
Originalmente publicado em: "Espumas flutuantes", Camillo de Lellis Masson & C., 1870.