À Beira-Mar
Poema de Júlia Cortines
Fremindo, a viração, que o roseiral perfuma,
Impele lentamente as águas, que, de irosas,
Rugem crespas, e vêm, em ondas tumultuosas,
Desfazer-se na praia em rendilhada espuma.
Ao longe, muito ao longe, as garças voam. Uma,
Vendo no azul do Ocaso as púrpuras e as rosas,
Abre no espaço imenso as asas ansiosas...
Outras pousam na vaga a frouxa e nívea pluma.
A lua surge branca e mesta, enquanto as fráguas
Tinge, e brilha no azul chamalote das águas
O trêmulo clarão do sol crepuscular...
Um espasmo contorce a natureza... O dia
Expira: a lua sobe: e à flor da areia fria
Rolam ondas de prata e ondas de luar...
Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Versos", Tipografia Leuzinger, 1894.