Cantiguinha
Poema de Cecília Meireles
Meus olhos eram mesmo água,
- te juro -
mexendo um brilho vidrado,
verde-claro, verde-escuro.
Fiz barquinhos de brinquedo,
- te juro -
fui botando todos eles
naquele rio tão puro.
Veio vindo a ventania,
- te juro -
as águas mudam seu brilho,
quando o tempo anda inseguro.
Quando as águas escurecem,
- te juro -
todos os barcos se perdem,
entre o passado e o futuro.
São dois rios os meus olhos,
- te juro -
noite e dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.
Fonte: "Viagem", Editora Ocidente, 1942.
Originalmente publicado em: "Viagem", 1939.