Campo, chinês e sono

Imagem de Carlos Drummond de Andrade

Poema de Carlos Drummond de Andrade



O chinês deitado
no campo. O campo é azul,
roxo também. O campo,
o mundo e todas as coisas
têm o ar de um chinês
deitado e que dorme.
Como saber se está sonhando?
O sono é perfeito. Formigas
crescem, estrelas latejam,
peixes são fluidos.
E árvores dizem qualquer coisa
que não entendes. Há um chinês
dormindo no campo. Há um campo
cheio de sono e antigas confidências.
Debruça-te no ouvido, ouve o murmúrio
do sono em marcha. Ouve a terra, as nuvens.
O campo está dormindo e forma um chinês
de suave rosto inclinado
no vão do tempo.



Fonte: "A Rosa do Povo", Editora Recordo, 1984.
Originalmente publicado em: "A Rosa do Povo", 1945.