Noite de S. João
Poema de Jorge de Lima
Vamos ver quem é que sabe
soltar fogos de S. João?
Foguetes, bombas, chuvinhas,
chios, chuveiros, chiando,
chiando,
chovendo
chuvas de fogo !
Chá-Bum!
O delegado proibiu bombas, foguetes, buscapés.
Chamalotes checo-eslavos
enchem o chão
de chamas rubras.
Chagas de enxofre chinesas
chiam,
choram,
cheiram,
numa chuva de chispas,
chispas de todos os tons,
listas de todas as cores
e no fim
sempre um
Tchi-bum!
Fogueira! Fogueira!
A menina bonita
saltou a fogueira
de meus olhos.
Meus olhos ficaram
cheios de fumaça de sonho!
Um tiro chocho chamusca
o dedinho
do Zezinho.
Chi!
Não chore!
Olhe a charanga!
Não chore
meu bonequinho de fogo!
minha rodinha de amor!
Chegam meninas...
Lá vão...
No meio delas lá vai
o pequeno com um chumaço
de água gelada na mão!
- Queimei meu dedo inda há pouco!
- De cá que eu chupo seu dedo
e você fica bonzinho!
E zás-traz chupam o dedinho
queimadinho do Zezinho!
Vamos agora Zezinho,
ver quem sabe soltar fogos,
foguetinhos de assobio,
sem lágrimas meu coração?
- Chuvinhas?
- Chuvinhas!
E enquanto chove lá fora
a chuva fria do céu,
chovem cá dentro
chuveiros,
charutos dinamarqueses,
chorões de chispas vermelhas,
enxames de vespas chiam,
chiam, chiam,
bailam, bailam lá-coxia,
cruzam-se em xis
morrem no chão.
Meus olhos estão chorando.
Fumaça! Fumaça!
Fonte: "Obra Poética", Editora Getulio Costa, 1949.
Originalmente publicado em: "Poemas", 1927.