A cana e o século dezoito
Poema de João Cabral de Melo Neto
A cana de açúcar, tão mais velha
que o século dezoito, é que o expressa.
A cana é pura enciclopedista,
no geométrico, no ser-de-dia,
na incapacidade de dar sombras,
mal-assombrados, coisas medonhas,
no gosto das várzeas ventiladas,
das cabeleiras bem penteadas,
de certa esbelteza linear,
porte incapaz de se desleixar,
e que vivendo em mares, anônima,
nunca se entremela como as ondas:
mas guardam a elegância pessoal,
postura e compostura formal,
muito embora exposta à devassada
luz sem pudor, sem muros, de várzea.
Fonte: "A educação pela pedra e depois", Editora Nova Fronteira, 1997.
Originalmente publicado em: "A escola das facas", 1980.
Fonte: "A educação pela pedra e depois", Editora Nova Fronteira, 1997.
Originalmente publicado em: "A escola das facas", 1980.