O passarinho em toda parte

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Poema de Carlos Drummond de Andrade



Bem te vi, bem-te-vi
bem te ouvi recitando
e  repetindo nítido
teu bentibentivismo.
Bem te vi lá na roça
nas árvores, nas águas,
bem te vi na cidade
que prolongava a roça,
bem te vi no Jardim
da República sobre
o cupim das cutias
estátuas no gramado,
bem te vi na Argentina
quando o chá na planície
chamava a revoada
de borboletas trêmulas
sobre o azul da piscina,
bem te vi, bem te vejo
na vasta galeria
de bichos e de coisas
irmãos de nossa vida
a esvoaçar na voz
dos mais velhos que ensinam
o almanaque da terra,
bem te vi, bem te vejo
presente entre as ausências
que me vão rodeando
e quando bem te avisto
e te ouço, eis que me assisto
devolvido ao primeiro
bem-te-ouvir do prístino
bem-te-vi bentivisto.



Fonte: "As Impurezas do Branco", José Olympio Editora, 1973.
Originalmente publicado em: "As Impurezas do Branco", 1973.