Passeio
Poema de Cecília Meireles
Agora a tarde está cercada de leões de fogo
ao longo das tamareiras.
Mas quando o calor desmaiar em cinza,
iremos ouvir o tênue rumor fresco da água
- de onde vem? de onde vem? -
iremos passear em redor do túmulo,
ó suave amiga, ó nuvem de musselina branca!
Iremos ouvir sobre o silêncio do tempo
o suspiro da água
- de onde vem? de onde vem? -
enquanto os pobres adormecem,
escondidos em suas barbas,
reclinados nas plantas.
No meio da noite morna,
os pobres dormem pelo jardim:
cama de flores,
cortinas de aragem,
o silêncio tecendo sonhos.
Ouviremos a frescura da água,
ó suave amiga, ó nuvem de musselina branca!
- de onde vem? de onde vem?
Pisaremos com extrema delicadeza,
sem o menor sussurro,
porque os pobres estão sonhando.
Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "Poemas escritos na Índia", 1961.