*


Poema de Cecília Meireles



Em seda tão delida,
em laços tão sem cor,
esteve a nossa vida
pelo tempo do amor.

E eis o espelho tão baço,
e o ar sem repercussão,
para a chegada e o abraço
e a voz do coração.

Eis a fechada porta.
Quem podia supor!
- mesmo a saudade é morta,
quase, quase sem dor.

Rios de serenata
para o mar levarão
o que morre, o que mata
e o que é recordação.



Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "Metal Rosicler", 1960.