campo de sucatas
Poema de Paulo Leminski
saudade do futuro que não houve
aquele que ia ser nobre e pobre
como é que tudo aquilo pôde
virar esse presente poder
e esse desespero em lata?
pôde sim pôde como pode
tudo aquilo que a gente sempre deixou poder
tanta surpresa pressentida
morrer presa na garganta ferida
raciocínio que acabou em reza
festa que hoje a gente enterra
pode sim pode sempre como toda coisa nossa
que a gente apenas deixa poder que possa
Fonte: "Toda Poesia", Editora Companhia das Letras, 2013.
Originalmente publicado em: "O ex-estranho", 1996.