Outro retrato de Andaluza
Poema de João Cabral de Melo Neto
Clareza para vários sentidos,
e de luz, mas sem transparência:
não clareza de um copo de água,
mas interna, carnal, espessa.
Clareza não só para a vista:
clareza ao dente do pão fresco,
do riso claro à vista e ao ouvido,
ao tacto, de coxa ou de seio.
Clareza do ar que sempre acende,
do ar de sal vivo que conversa,
do ar fêmea que toda envolve,
ar tanguillo das saias dela.
Originalmente publicado em: "Museu de tudo", 1975.