Deixa-me seguir para o mar

Imagem de Mário Quintana

Poema de Mario Quintana



Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como
evocar-se um fantasma... Deixa-me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...

Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
me recamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim crianças banhar-se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é sempre seguir para o mar,
as imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...

toda a tristeza dos rios
é não poderem parar.



Fonte: "Quintana de Bolso", Editora L&PM Pocket, 2007.
Originalmente publicado em: "Baú de Espantos", 1986.