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Poema de Fernando Pessoa
Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo E imarcescível sempre.
Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas voluteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.
Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como uma voz chorando
O passar das bacantes.
E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.
Fonte: 'Obra Poética', décima edição, Editora Nova Fronteira, 2001.