Transformação do dançarino

Imagem de Cecília Meireles

Poema de Cecília Meireles



Nasce da sombra o dançarino,
de um ovo de seda e mistério.
E seu perfil é transparente
e sua carne é a de um inseto.

E eu o amo como às borboletas,
à asa das libélulas - e erro
no seu mundo sem solo, reino
que se vai tornando sidério.

Suas tênues mãos nada tocam,
e olha entre verdes águas, cego.
Cada posição de seu corpo
é um símbolo instantâneo e hermético.

Toma nos lábios o silêncio
e é um peixe bebendo o mar, quieto.
Gira, e súbito se divide,
como espelho que cai de um prego.



Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "Retrato Natural", 1949.