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Poema de Mário de Andrade
A enchente que cava margem,
Roubou os barcos do porto,
A água brota em nosso joelho
Delícias de solidão.
Trepados na castanheira
Viveremos sossegados
Enquanto a terra for mar;
Pauí-Pódole virá
Nas horas de Deus trazer
A estrela, a umidade, o aipim.
E quando a terra for terra,
Só nós dois, e mais ninguém,
De mim nascerão os brancos,
De você, a escuridão.
Fonte: "Poesia completa", Editora Itatiaia, 1987.
Originalmente publicado em: "Poesias", 1941.