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Poema de Manoel de Barros
Este ermo não tem nem cachorro de noite.
É tudo repleto de nadeiras.
Só escuto a paisagem há mil anos.
Chegam aromas de amanhã em mim.
Só penso coisas com efeitos de antes.
Nas minhas memórias enterradas
Vão achar muitas conchas ressoando...
Seria o areal de um mar extinto
Este lugar onde se encostam cágados?
Deste lado de mim parou o limo
E de outro lado uma andorinha benta.
Eu sou beato nesse passarinho.
Originalmente publicado em: "Livro das Ignorãças", 1993.