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Poema de Manoel de Barros
Suporte de uma tapera é o abandono.
Aqui passeiam emas distraídas, com as suas moelas de alicate, a comer suspensórios, cobras, pregos, maçarocas de cabelo, cacos de vidro etc.
A ema esmera mais com vidros.
E não são feitas para elas as hirtas coxas das lagartixas?
Tapera tem as horas paradas.
É um território de aturdidos morcegos.
Baratas passeiam por seus luares...
Tapera é a coisa mais nua!
Tem perfeições de apagamento esse lugar.
Descem por seus escâncaros rubros melões-de-são-caetano.
Tapera só aguenta o esquecimento.
Teius de amígdalas gordas dormem nas cinzas do fogão.
Cipós e teias amarram esse abandono.
Originalmente publicado em: "O Guardador de Águas", 1989.