Os mortos de sobrecasaca
Poema de Carlos Drummond de Andrade
Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.
Fonte: "Antologia Poética", Editora Record, 2001.
Originalmente publicado em: "Sentimento do mundo", Editora Pongetti, 1940.