Odoyá

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Poema de crroma



Odoyá Iemanjá,
louvemos agradecidos
porque no oceano Pacífico seus cabelos
trançaram manjedoura para a menina
e as águas se mantiveram frias.

Em Amazônia o acre dente
de motosserras ferem,
retroescavadeiras e dragas engolem
o solo, os  bichos, os rios, a mata, a gente.
Por sacos de um quilo de ouro
depredam incompreendida riqueza.
Nulificam a floresta
em propriedades rurais de forjadas escrituras.

Odoyá Iemanjá,
que o menino ainda não vem
reinar sobre o Pacífico
com o torso inflamado em secas, em brasas,
revelando a hipocrisia daqueles
que silenciam a ameaça maior
e mais imediata
do fogo.

A hipocrisia de um mundo que busca
afoitamente legitimar
a plutocracia. 

Odoyá Iemanjá,
ensejas tanto esforço
e tão pouco adianta:
um cipoal de fuzis asfixia a floresta;
perduram desumanas insensibilidades
ao que não for lucro e poder.

Talvez somente mesmo as chamas,
remédio tão amargo,
para curar olhos que não enxergam.