O silêncio
Poema de Manuel Bandeira
Na sombra cúmplice do quarto,
Ao contato de minhas mãos lentas,
A substância da tua carne
Era a mesma que a do silêncio.
Do silêncio musical, cheio
De sentido místico e grave,
Ferindo a alma de um enleio
Mortalmente agudo e suave.
Ah, tão suave e tão agudo!
Parecia que a morte vinha...
Era o silêncio que diz tudo
O que a intuição mal adivinha.
É o silêncio da tua carne.
Da tua carne de âmbar, nua,
Quase a espiritualizar-se
Na aspiração de mais ternura.
Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "O Ritmo Dissoluto", 1924.