O fim do mundo
Poema de João Cabral de Melo Neto
No fim de um mundo melancólico
os homens leem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.
Me deram uma maçã para lembrar
a morte. Sei que cidades telegrafam
pedindo querosene. O véu que olhei voar
caiu no deserto.
O poema final ninguém escreverá
desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa
o sonho final.
Originalmente publicado em: "O Engenheiro", 1945.