natureza morta
Poema de Celso Borges
o passarinho sem pernas
olha de dentro da gaiola
pendurada no teto
dentro do quarto da casa sem quintal
a tarde que brilha lá fora
o passarinho sem asas
olha o que o olho permite
o voo inútil que a tarde inventa
a luz morna e provisória
que vai ser escuro daqui a pouco
o passarinho sem passarinho
só
a tarde abso
luta
sem pernas
sem asas
sem nada.
Fonte: Coleção "Leve um Livro", 2017.