Confissão (As impurezas do branco)

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Poema de Carlos Drummond de Andrade



É certo que me repito,
é certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.

É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito,
atiro à cesta o absoluto
como inútil papelito.

É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como é trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.

Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflito
as fábulas do deserto
do raciocínio infinito.

É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
não passa de anacoluto.



Fonte: "As Impurezas do Branco", José Olympio Editora, 1973.
Originalmente publicado em: "As Impurezas do Branco", 1973.