Chama
Poema de crroma
A chama da vela
raia uma luz baça.
Pela rua escorre
a noite liberta,
sedoso veludo
que a qualquer um cega.
Em cada janela
raia uma luz baça
porque nos cômodos
não se quer noite vazada.
Ausenta-se a luz elétrica
e o breu, lá fora, estala.
Ondeia a chama da vela,
projetando nas paredes
sombras enodoadas.
Que transitam, gesticulam,
ou apenas se preocupam
em como virá o amanhã.
A chama da vela
raia uma luz baça.
Raia também a lembrança
de tempestade pretérita
cujas trevas abnormes
engoliram as crianças.
Que desapareceram
- infâncias -,
nunca mais encontradas.
Uma luz baça,
frouxa, pálida chama
em cujo brilho
os adultos aguardam
a companhia energética
às lâmpadas restabelecer a vida.