Cemitério alagoano

Imagem de João Cabral de Melo Neto

Poema de João Cabral de Melo Neto



Sobre uma duna da praia
o curral de um cemitério,
que o mar todo o dia, todos,
sopra com vento antissético.

Que o mar depois desinfeta
com água de mar, sanativa,
e depois, com areia seca,
ele enxuga e cauteriza.

O mar, que só preza a pedra,
que faz de coral suas árvores,
luta por curar os ossos
da doença de possuir carne,

e para curá-los da pouca
que de viver ainda lhes resta,
lavadeira de hospital,
o mar esfrega e reesfrega.



Fonte: "Serial e antes", Editora Nova Fronteira, 1997.
Originalmente publicado em: "Quaderna", 1960.