Canção do deserto
Poema de Cecília Meireles
Minha ternura nas pedras
vegeta.
Caravana de formigas
tomam sempre o mesmo caminho.
E a areia - cega.
Noite e dia, noite e dia
- como se estivesse à espera.
O sol consome as cigarras,
a lua pelas escadas
se quebra.
Minha ternura? - nas pedras.
Para o último céu perdido,
meu desejo sem auxílio
se eleva.
Mas os passos deste mundo
pisam tudo, tudo, tudo...
Morte certa.
Morte por todos os passos...
(Só com a sola dos sapatos
os homens tocam a terra!)
Minha ternura? - nas pedras.
Nas pedras.
Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "Vaga Música", 1942.