Benedito Calunga

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Poema de Jorge de Lima



Benedito Calunga
             calunga-ê
não pertence ao papa-fumo,
nem ao quibungo,
nem ao pé de garrafa,
nem ao minhocão.

Benedito Calunga
             calunga-ê
não pertence a nenhuma ocaia nem a nenhum tati, nem
mesmo a Iemanjá,
nem mesmo a Iemanjá.

Benedito Calunga
             calunga-ê
não pertence ao Senhor
que o lanhou de surra
e o marcou com ferro de gado
e o prendeu com lubambo nos pés.

Benedito Calunga
pertence ao banzo
que o libertou,
pertence ao banzo
que o amuxilou,
que o alforriou
para sempre
em Xangô.

Hum-Hum.



Fonte: "Novos poemas; Poemas escolhidos; Poemas negros", Editora Lacerda, 1997.
Originalmente publicado em: "Poemas Negros", 1947.