Da utilidade pública
Poema de Allan Jonnes
o senhor Cláudio Pereira
negociante de algodão doce e bexiga
de oxigênio para crianças parou
outro dia a sua bicicleta monark modelo circular
próximo dos arcos da orla
e manifestou a maior indignação da própria vida
não vendi nada até agora mas eu só queria mesmo é que um dia
saísse em qualquer jornal nem precisa ser de televisão
que o pessoal que faz algodão doce não coloca a boca na sacola
para encher essa desgraça de assopro ou de cuspe até que depois
a gente amarra tudo ali com baba e bactéria
nesse mesmo momento pereira pegou uma
das sacolinhas de algodão ao vivo
prendeu cada ponta com dois dedos e girou
girou até encher o saco e depois deu um nó
sendo eu a sua testemunha
que de fato a boca não encosta
Fonte: Coleção "Leve um Livro", 2016.