Um
Poema de Cecília Meireles
Agora podeis tratar-me
como quiserdes:
não sou feliz nem sou triste,
humilde nem orgulhoso
- não sou terrestre.
Agora sei que este corpo,
insuficiente, em que assiste
remota fala,
mui docemente se p
E seu destino é ir mais longe,
tão longe, enfim, como a exata
alma, por onde
se pode ser livre e isento,
sem atos além do sonho,
dono de nada,
mas sem desejo e sem medo,
e entre os acontecimentos
tão sossegado!
Agora podeis mirar-me
enquanto eu próprio me aguardo,
pois volto e chego,
por muito que surpreendido
com os seus encontros na terra
seja o Aeronauta.
Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "O Aeronauta", 1952.