Ainda à espera
Poema de crroma
Uma mulher ainda não um homem,
ainda um animal doméstico.
Uma mulher menor do que um homem,
pior do que um homem.
Uma mulher o ser monotônico, rosa,
de lugar definido.
Uma mulher a fêmea da espécie,
prestando-se ao instinto do sexo, e serve,
submete-se.
E nessa adesão à sociedade se integra
parcial, imperfeitamente:
uma mulher o prazer de pintar as unhas,
de calçar os sapatos,
matéria sem profundidade, em movimento.
Um semi-objeto em residências, escritórios,
um quadro pendurado na parede, um abajur
no criado-mudo, um ornamento em cerâmica.
Uma mulher ainda não mulher,
ainda à espera do humano.
Mas não há como haver o humano.
O humano ainda não humano,
os homens ainda hominídeos, ainda
bestializados primatas, falantes,
de barbas
grisalhas.
O humano ainda sem plena expressão,
ainda à espera
de mulheres e homens.