Infância
Poema de Manoel de Barros
Coração preto gravado no muro amarelo.
A chuva fina pingando... pingando das árvores...
Um regador de bruços no canteiro.
Barquinhos de papel na água suja das sarjetas...
Baú de folha de flandres da avó no quarto de dormir.
Réstias de luz no capote preto do pai.
Maça verde no prato.
Um peixe de azebre morrendo... morrendo, em dezembro.
E a tarde exibindo os seus
Girassóis aos bois.
Originalmente publicado em: "Poesias", 1947.