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Poema de Manoel de Barros
Era fonte fria?
Rosa entreaberta?
Pássaro canoro? Era
Boca?
Se era fonte,
Se era boca,
Me esqueci.
Dava na horta?
Dava no gado?
Era peste, praga,
Era brejo dissoluto
De miasmas, ou apenas
Boca?
Estava coberta de pó
E esquecimento.
Alimentava insônias.
As pessoas mais velhas preveniam: lembravam de veneno, e empregavam as palavras inferno, abismo e perdição para defini-la.
Entanto era rubra,
E lúcida.
Era fresca:
Parecia poço debaixo de árvores.
Originalmente publicado em: "Poesias", 1947.