Sugestão
Poema de Cecília Meireles
Sêde assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre
sem pergunta.
Onda que se esforça
por exercício desinteressado.
Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.
Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.
Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.
Sêde assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.
Fonte: "Antologia Poética", Editora do Autor, terceira edição, 1966.
Originalmente publicado em: "Mar Absoluto", 1945.