Quadras populares 661 a 680


Poema anônimo



662

O rei me mandou chamá
Pra casa com sua fia;
O dote que ela me dava,
Orópa, França e Bahia.

663

O rio de São Francisco
Corre que desaparece;
No meio tem um remanso
Onde o meu amor padece.

664

O meu nome Zé Dengoso
Que na pia foi-me dado,
Zé Dengoso de Manteiga,
De meus parentes herdado.

665

O limão está azedo
Quando tem seu azedume:
Eu também fico azedinho
Quando tenho o meu ciúme.

666.

O tempo tudo carcome,
Mesmo da pedra o letreiro;
Mas não gasta, não consome
Um amor que é verdadeiro.

667

O amor entra pelos olhos,
Vai ao peito direitinho ;
Se não acha resistência
Vai seguindo o seu caminho.

668

Ó pinheiro que dás pinha,
Ó pinha que dás pinhão,
Quem possui amor tem zelos,
Quem tem zelos tem paixão.

669

O desejo em peito triste
É flor no sertão nascida,
Que vinga, floresce e morre
Sem se tornar conhecida.

672

Ocê disse que eu sou sua;
Se eu sou sua eu não sei:
O mundo dá muita volta,
Eu não sei de quem serei.

673

O amor é uma cangalha
Que se bota em quem quer bem:
Se não quer levar rabicho,
Não tenha amor a ninguém.

674

O inverno é rigoroso,
Bem dizia minha avó:
Quem dorme junto tem frio,
Que fará quem dorme só?

675

Os padres gostam de moça
E os doutores também;
Eu, como rapaz solteiro,
Gosto mais do que ninguém.

676

Olhos negros e travessos
São pra mim setas de amor;
Os azuis matam a gente
Requebrados com langor.

677

O meu peito não se cansa
De jurar-te amor sem fim.
Ai ! morreu minha esperança!
Quanto é triste amar assim!

678

Ó minha irmã Fortunata,
Se com a nossa mãe falares,
Não contes meus sofrimentos
P ra não lhe dar mais pesares.

679

Ouve: se é crime o desprezo
Em paga de uma afeição,
Também é loucura amar-se
Quem pratica ingratidão.

680

O vapor berrou na serra,
O vagão urrou no alto:
Apronta, Maruca, vamos,
Sem Maruca eu não embarco.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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