Quadras populares 641 a 660


Poema anônimo



641

O Divino é muito rico,
Tem brasão e tem riqueza,
Mas quer fazer sua festa
Com esmolas da pobreza.

642

O bem é só o ausente,
Só o alheio ou passado:
O mal (hás de ter notado)
É sempre a hora presente.

643

O teu rosto de morena
Levemente tem a cor;
Para o poder comparar
Não encontro uma só flor.

644

Ó mimosas farroupilhas,
Cuidai bem vossos filhinhos,
Que a Pátria muito precisa
Desses mimosos bracinhos.

645

O Divino Espirito Santo
É um grande folião,
Amigo de muita carne,
Muito vinho e muito pão.

646

O céu cobriu-se de nuvens,
A terra toda tremeu,
Para me dar a notícia
Que a minha Liria morreu.

647

O tatu é bicho manso,
Nunca mordeu a ninguém:
Inda que queira morder
O tatu dentes não tem.

648

O pintor que pintou Ana
Também pintou Leonor;
Se Ana saiu mais formosa,
Que culpa tem o pintor?

649

O meu peito só se abre
Com esta chave pequenina ;
Lá bem dentro hás de achar
Um retrato de menina.

650

Ó senhor dono da casa,
Quer que lhe diga quem é?
É um cravo de amaranho
Com sua açucena ao pé.

651

O Paulo, Ruivo e Madeira,
Todos três numa janela,
Esfolando um pé de burro
Supondo ser de vitela.

652

O Divino pede esmolas,
Mas não é por carecer,
Pede para experimentar
Quem seu devoto quer ser

653

O Divino Espírito Santo
Hoje vos vem visitar,
Vem pedir-vos uma esmola
Pra seu império enfeitar.

654

O Divino Espírito Santo
É pobre, não tem dinheiro,
Quer formar o seu império
Com folhas de cajueiro.

655

Os ferros d’El Rei são duros,
Mas o de amor é mais forte;
Para os de El Rei há lima,
Para os de amor só a morte.

656

Ó Ciranda, ó Cirandinha,
Vamos todos cirandar;
Uma volta, meia volta,
Volta e meio vamos dar.

657

Ó Ciranda, ó Cirandinha,
Vamos todos cirandar;
Vamos ver dona Luíza
Que já está para casar.

658

O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou:
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.

659

"Ó meninas, ó meninas,
Onde fostes passear?"
"No jardim do rei de amores
Para lá contradançar."

660

O luxo do bom carreiro
É ver o carro cantar:
Sete juntas de boi preto
E uma vara de tocar.



Fonte: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.
Originalmente publicado em: "Mil quadras populares brasileiras", Briguiet e Cia. Editores, 1916.

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